Conceptualização do Transtorno Bipolar
O Transtorno Bipolar (TB), é também conhecido como transtorno afectivo bipolar. Segundo Bosaipo, Borges e Juruena1 (2017), “é uma condição psiquiátrica caracterizada por alterações graves de humor, que envolvem períodos de humor elevado e de depressão intercalados por períodos de remissão, e estão associados a sintomas cognitivos, físicos e comportamentais específicos”(p. 73).
De acordo com a Classificação Internacional das Doenças (CID-11), o Transtorno Bipolar e outros transtornos relacionados “são transtornos do humor episódica definidos pela ocorrência de maníaco, episódios ou sintomas mistos ou hipomania. Estes episódios normalmente se alternam ao longo destas desordens com episódios depressivos ou períodos de sintomas depressivos” (p. 23).
Já o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) diferencia o Transtorno Bipolar em dois tipos principais. São eles: o Tipo I, em que a elevação do humor é grave e persistente (mania), e o Tipo II, em que a elevação do humor é mais branda (hipomania).
Os autores Bosaipo, Borges e Juruena1 (2017), distinguem um recente conceito que denominam por “espectro bipolar” que embora não conste na actual nomenclatura de acordo com o CID (Classificação Internacional de Doenças) e o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a semiologia deste se encaixam ao Transtorno Bipolar, compreendendo pessoas com depressão recorrente grave, tal como na depressão unipolar clássica, porém com histórico familiar de Transtorno Bipolar ou mania induzida por antidepressivos e uma série de outras características de bipolaridade relacionadas aos sintomas depressivos, incluindo o curso ou resposta a tratamentos, como: características mistas ou melancólicas, início precoce, múltiplos episódios, baixa tolerância ou pouca resposta a antidepressivos
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o transtorno bipolar acomete cerca de 140 milhões de pessoas no mundo. Estima-se que a prevalência global do transtorno bipolar seja de 1 a 2%. A doença afeta mais os jovens, sobretudo entre os 15 e 25 anos, mas pode ter um pico tardio entre 45 e 55 anos. O transtorno incide igualmente em homens e mulheres.
Agentes Etiológicos do Transtorno Bipolares e transtornos relacionados
Em Psicopatologia, a terminologia etiologia refere ao estudo das causas ou os factores causais que originam a uma entidade patológica especifico.
A causa exata do transtorno afetivo bipolar é desconhecida. Estudos sugerem que o problema pode estar associado a alterações em certas áreas do cérebro e nos níveis de vários neurotransmissores, como noradrenalina e serotonina. Daí que, o DSM-5 vem ressaltando os factores ambientais, genéticos e fisiológicos.
Aos factores ambientais, segundo o DSM-5 verifica-se que, o transtorno bipolar é mais comum em países com pessoas com renda elevada do que com renda mais baixa (1,4 vs. 0,7%). Pessoas separadas, divorciadas ou viúvas têm taxas mais altas de transtorno bipolar tipo I do que aquelas casadas ou que nunca casaram, mas o sentido em que a associação se modifica não é clara. Podemos ainda adicionar neste grupo as perdas (doença, morte de alguém importante na vida da pessoa, separação, desemprego, dificuldades financeiras); os ganhos (casamento, reconciliação, gravidez, nascimento, melhora de padrão financeiro); sono (privação de sono); substâncias (uso de álcool e drogas) e os medicamentos (parada ou diminuição da medicação).
Referente aos factores genéticos e fisiológicos, DSM-5 demonstra que, história familiar de transtorno bipolar é um dos fatores de risco mais fortes e mais consistentes para transtornos dessa categoria. Associada a essa ideia, a magnitude do risco aumenta com o grau de parentesco, há um pressuposto que transtorno bipolar provavelmente partilhe uma origem genética, refletida na coagregação familiar.
No entanto, o Transtorno Bipolar é um transtorno complexo e multideterminado, causado pela interação de fatores genéticos e ambientais. O surgimento e a evolução do TB são possivelmente influenciados pelo trauma precoce, por eventos aversivos significativos da vida e pelo uso indevido de álcool e drogas. O aparecimento da doença pode ser particularmente influenciado pelo estresse sofrido no final da adolescência, mas os primeiros episódios de mania podem se manifestar ao longo de toda a vida ( Bosaipo, Borges & Juruena1, 2017, p. 75).
Semiologia do transtorno bipolar e outros transtornos relacionados
Já o conceito da semiologia referencia ao estudo dos sinais e sintomas da entidade nosológica ou o transtornos específico, no presente caso, ao transtorno bipolar.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a característica essencial de um episódio maníaco é um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento persistente da atividade ou da energia, com duração de pelo menos uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias.
Dalgalarrondo (2019), sustenta que as fases de mania do transtorno bipolar, há um conjunto de elementos da comunicação não verbal (CNV) bastante característico. O comportamento global do paciente é muito ativo, alegre, eufórico ou irritável; interage com o interlocutor logo ao conhecê-lo, como se fosse seu amigo íntimo. Os pacientes anda podem mostrar comportamentos como: desrespeito à distância mínima a pessoa que acaba de conhecer, e isso associa-se à perda da inibição social, nisso por exemplo ele pode falar com o médico como se fosse uma pessoa íntima e um amigo antigo.
Na hipomania “as elevações de humor e os distúrbios comportamentais/funcionais são menos graves e com duração mais breve que o estado de mania (quatro dias consecutivos), o que geralmente não coloca a pessoa perante atenção médica” (Bosaipo, Borges & Juruena1, 2017, p. 75).
Ainda o paciente pode expressar alegria e grandeza, contentamento transbordante, com risos, sobretudo quando conta de suas peripécias. Geralmente, se considera uma pessoa extraordinária, por isso deve receber toda a atenção dos outros. Não admite qualquer dificuldade para seus projetos ou ideias (Monedero, 1975 apud Dalgalarrondo, 2019, p. 130).
Para Caillard (1984) citado por Dalgalarrondo (2019),
é comum que o paciente com mania acorde muito cedo pela manhã, manifestando já uma hiperatividade ruidosa; canta e sobretudo se for religioso, prega para todos, entoa os hinos e canções de sua igreja ou outros hinos conhecidos. Tem uma loquacidade quase inesgotável, com condutas diversas e, às vezes, escandalosas (p.130).
Relacionado ao transtorno bipolar do tipo I, a Classificação Internacional de doenças (CID-11), caracteriza pela manifestação da euforia, irritabilidade, ou expansividade, e pelo aumento da atividade ou uma experiência subjetiva de aumento da energia, acompanhada de outros sintomas característicos, como a fala rápida ou pressionados, fuga de idéias, aumento da auto-estima ou grandiosidade, necessidade de sono diminuída, distração , mudanças de comportamento impulsivo ou imprudente, e rápidas entre os diferentes estados de humor (ou seja, labilidade do humor).
Segundo DSM-5, o transtorno bipolar tipo II caracteriza-se por um curso clínico de episódios de humor recorrentes, consistindo em um ou mais episódios depressivos maiores. O episódio depressivo maior deve ter duração de pelo menos duas semanas, e o hipomaníaco, de, no mínimo, quatro dias, para que sejam satisfeitos os critérios diagnósticos. Durante o(s) episódio(s) de humor, a quantidade necessária de sintomas deve estar presente na maior parte do dia, quase todos os dias, além de os sintomas representarem uma mudança notável do comportamento e do funcionamento habituais.
Nas palavras de Bosaipo, Borges e Juruena1 (2017),
os quadros de depressão do Transtorno Bipolar, também chamados de Episódio Depressivo Maior, são caracterizados pelo humor deprimido ou perda de interesse/prazer por quase todas as atividades durante pelo menos duas semanas. Além disso, o indivíduo pode apresentar perturbações nas funções vegetativas, incluindo: alterações no apetite ou peso, no padrão de sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimento de culpa e/ou desvalia; dificuldade para pensar ou concentrar-se ou tomar decisões; pensamentos recorrentes sobre a morte, ideação, planos ou mesmo tentativas suicidas.
De um modo geral, o indivíduo com transtorno Bipolar, em especial a mania, no início do quadro, está animado, alegre, acelerado, com ideias grandiosas. Com o passar dos dias e semanas, as pessoas que lhe são mais próximas passam a impor limites aos seus atos, como, por exemplo, negam lhe dar dinheiro, censuram sua atitude e fazem críticas crescentes. Geralmente, então, o paciente pode mudar de um estado global de alegria, elação e excitação para o estado de irritação, beligerância, podendo agredir familiares, profissionais da saúde ou outros que interagem com ele e lhe coloquem qualquer limite ou oposição (Dalgalarrondo, 2019).
As entidades Nosológica dos transtornos relacionados ao Transtorno Bipolar
O DSM-5 classifica o transtorno Bipolar em cinco tipos: transtorno bipolar tipo 1, transtorno bipolar tipo II, transtorno ciclotímico, transtorno bipolar induzido por substância ou medicamento e transtorno bipolar devido a outra condição médica.
Transtorno bipolar tipo I
Este é também chamado de bipolar clássico. Nele predomina a mania ou hipomania em relação à depressão. A idade de início é, em média, aos 18 anos. . O início ocorre ao longo do ciclo de vida, inclusive os primeiros sintomas podem iniciar aos 60 ou 70 anos. O início dos sintomas maníacos (p. ex., desinibição sexual ou social) no fim da vida adulta ou na senescência deve indicar a possibilidade de condições médicas (p. ex., transtorno neurocognitivo frontotemporal) e de ingestão ou abstinência de substância.
Transtorno bipolar tipo II
Ao contrário do tipo 1, o transtorno bipolar tipo II tem o predomínio da depressão em relação à hipomania. É comum a impulsividade, refletida em tentativas de suicídio e uso de substâncias que alteram a consciência. Embora o transtorno bipolar tipo II possa começar no fim da adolescência e durante a fase adulta, a idade média de início situa-se por volta dos 25 anos, o que é um pouco mais tarde em comparação ao transtorno bipolar tipo I e mais cedo em comparação ao transtorno depressivo maior. Geralmente, começa por depressão, transtornos alimentares, transtorno de ansiedade e uso de substâncias. Não ocorrem sintomas psicóticos, que são causados pela mania.
Transtorno ciclotímico
O transtorno ciclotímico costuma ter início na adolescência ou no início da vida adulta e é, às vezes, considerado reflexo de uma predisposição do temperamento a outros transtornos atrás apresentados. DSM-5 ressalta que há risco de 15 a 50% de um indivíduo com transtorno ciclotímico desenvolver posteriormente transtorno bipolar tipo I ou transtorno bipolar tipo II. No entanto, neste transtorno um paciente altera entre períodos de hipomania e depressivos, mas, não tem sintomas suficientes para caracterizar um diagnóstico., mas não são alterações graves.
Transtorno bipolar induzido por substância ou medicamento
Acontece após intoxicação ou abstinência de alguma substância ou exposição a algum medicamento que pode produzir os mesmos sintomas. Mas é preciso haver uma lógica entre causa e consequência, por exemplo: quando um paciente utiliza um analgésico e tem um episódio de mania, não há relação entre as duas coisas. Diferentemente de um episódio de mania em quem usou corticoides e anfetaminas, pois os dois eventos podem estar associados.
Transtorno bipolar devido a outra condição médica
O transtorno bipolar e transtorno relacionado devido a outra condição médica costuma ter início de forma aguda ou subaguda na primeira semana ou no primeiro mês do surgimento da condição médica associada. Entretanto, este compreende a um período persistente de humor deprimido que é consequência de uma outra condição, por exemplo: doença de Cushing, esclerose múltipla, AVC e lesões cerebrais traumáticas.
Referencia bibliográfica
Bosaipo, N. B. Borges, V. F. & Juruena1, M. F. (2017). Transtorno bipolar: uma revisão dos aspectos conceituais e clínicos. Medicina (Ribeirão Preto, Online.) 2017;50(Supl.1), jan-fev.:72-84. Acessado a 29 de Fevereiro de 2024. Disponível em: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v50isupl1
Dalgalarrondo, P. (2019). Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 3ª ed. Artmed Editora Ltda. Porto Alegre.
World Health Organization (2018). Classificação Internacional de Doenças: CID-11 (2018) CID-11 Estatísticas para mortandade e mortalidade. Geneva.
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento ... et al. (2014). Revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli, et al. – 5. ed. Dados eletrónicos. Porto Alegre: Artmed.
https://www.nhs.uk/mental-health/conditions/bipolar-disorder/overview/ - acessado a 27 de fevereiro de 2024.
Sem comentários:
Enviar um comentário