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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

O transtorno bipolar e transtornos relacionados

 

Conceptualização do Transtorno Bipolar

O Transtorno Bipolar (TB), é também conhecido como transtorno afectivo bipolar. Segundo Bosaipo,  Borges e Juruena1 (2017), “é uma condição psiquiátrica caracterizada por alterações graves de humor, que envolvem períodos de humor elevado e de depressão intercalados por períodos de remissão, e estão associados a sintomas cognitivos, físicos e comportamentais específicos”(p. 73).

De acordo com a Classificação Internacional das Doenças (CID-11), o Transtorno Bipolar e outros transtornos relacionados “são transtornos do humor episódica definidos pela ocorrência de maníaco, episódios ou sintomas mistos ou hipomania. Estes episódios normalmente se alternam ao longo destas desordens com episódios depressivos ou períodos de sintomas depressivos” (p. 23).

Já o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) diferencia o Transtorno Bipolar em dois tipos principais. São eles: o Tipo I, em que a elevação do humor é grave e persistente (mania), e o Tipo II, em que a elevação do humor é mais branda (hipomania).

Os autores Bosaipo,  Borges e Juruena1 (2017), distinguem um recente conceito que denominam por “espectro bipolar” que embora não conste na actual nomenclatura de acordo com o CID (Classificação Internacional de Doenças) e o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a semiologia deste se encaixam ao Transtorno Bipolar, compreendendo pessoas com depressão recorrente grave, tal como na depressão unipolar clássica, porém com histórico familiar de Transtorno Bipolar ou mania induzida por antidepressivos e uma série de outras características de bipolaridade relacionadas aos sintomas depressivos, incluindo o curso ou resposta a tratamentos, como: características mistas ou melancólicas, início precoce, múltiplos episódios, baixa tolerância ou pouca resposta a antidepressivos

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o transtorno bipolar acomete cerca de 140 milhões de pessoas no mundo. Estima-se que a prevalência global do transtorno bipolar seja de 1 a 2%. A doença afeta mais os jovens, sobretudo entre os 15 e 25 anos, mas pode ter um pico tardio entre 45 e 55 anos. O transtorno incide igualmente em homens e mulheres.

Agentes Etiológicos do Transtorno Bipolares e transtornos relacionados

Em Psicopatologia, a terminologia etiologia refere ao estudo das causas ou os factores causais que originam a uma entidade patológica especifico.

A causa exata do transtorno afetivo bipolar é desconhecida. Estudos sugerem que o problema pode estar associado a alterações em certas áreas do cérebro e nos níveis de vários neurotransmissores, como noradrenalina e serotonina. Daí que, o DSM-5 vem ressaltando os factores ambientais, genéticos e fisiológicos.

Aos factores ambientais, segundo o DSM-5 verifica-se que, o transtorno bipolar é mais comum em países com pessoas com renda elevada do que com renda mais baixa (1,4 vs. 0,7%). Pessoas separadas, divorciadas ou viúvas têm taxas mais altas de transtorno bipolar tipo I do que aquelas casadas ou que nunca casaram, mas o sentido em que a associação se modifica não é clara. Podemos ainda adicionar neste grupo as perdas (doença, morte de alguém importante na vida da pessoa, separação, desemprego, dificuldades financeiras); os ganhos (casamento, reconciliação, gravidez, nascimento, melhora de padrão financeiro); sono (privação de sono); substâncias (uso de álcool e drogas) e os medicamentos (parada ou diminuição da medicação).

Referente aos factores genéticos e fisiológicos, DSM-5 demonstra que, história familiar de transtorno bipolar é um dos fatores de risco mais fortes e mais consistentes para transtornos dessa categoria. Associada a essa ideia, a magnitude do risco aumenta com o grau de parentesco, há um pressuposto que transtorno bipolar provavelmente partilhe uma origem genética, refletida na coagregação familiar. 

No entanto, o Transtorno Bipolar é um transtorno complexo e multideterminado, causado pela interação de fatores genéticos e ambientais. O surgimento e a evolução do TB são possivelmente influenciados pelo trauma precoce, por eventos aversivos significativos da vida e pelo uso indevido de álcool e drogas. O aparecimento da doença pode ser particularmente influenciado pelo estresse sofrido no final da adolescência, mas os primeiros episódios de mania podem se manifestar ao longo de toda a vida ( Bosaipo,  Borges & Juruena1, 2017, p. 75).

Semiologia do transtorno bipolar e outros transtornos relacionados

Já o conceito da semiologia referencia ao  estudo dos sinais e sintomas da entidade nosológica ou o transtornos específico, no presente caso, ao transtorno bipolar.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a característica essencial de um episódio maníaco é um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento persistente da atividade ou da energia, com duração de pelo menos uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias.

Dalgalarrondo (2019), sustenta que as fases de mania do transtorno bipolar, há um conjunto de elementos da comunicação não verbal (CNV) bastante característico. O comportamento global do paciente é muito ativo, alegre, eufórico ou irritável; interage com o interlocutor logo ao conhecê-lo, como se fosse seu amigo íntimo. Os pacientes anda podem mostrar comportamentos como: desrespeito à distância mínima a pessoa que acaba de conhecer, e isso associa-se à perda da inibição social, nisso por exemplo ele pode falar com o médico como se fosse uma pessoa íntima e um amigo antigo.

Na hipomania “as elevações de humor e os distúrbios comportamentais/funcionais são menos graves e com duração mais breve que o estado de mania (quatro dias consecutivos), o que geralmente não coloca a pessoa perante atenção médica” (Bosaipo,  Borges & Juruena1, 2017, p. 75).

Ainda o paciente pode expressar alegria e grandeza, contentamento transbordante, com risos, sobretudo quando conta de suas peripécias. Geralmente, se considera uma pessoa extraordinária, por isso deve receber toda a atenção dos outros. Não admite qualquer dificuldade para seus projetos ou ideias (Monedero, 1975 apud Dalgalarrondo, 2019, p. 130).

Para Caillard (1984) citado por Dalgalarrondo (2019),

é comum que o paciente com mania acorde muito cedo pela manhã, manifestando já uma hiperatividade ruidosa; canta e sobretudo se for religioso, prega para todos, entoa os hinos e canções de sua igreja ou outros hinos conhecidos. Tem uma loquacidade quase inesgotável, com condutas diversas e, às vezes, escandalosas (p.130).

Relacionado ao transtorno bipolar do tipo I, a Classificação Internacional de doenças (CID-11), caracteriza pela manifestação da euforia, irritabilidade, ou expansividade, e pelo aumento da atividade ou uma experiência subjetiva de aumento da energia, acompanhada de outros sintomas característicos, como a fala rápida ou pressionados, fuga de idéias, aumento da auto-estima ou grandiosidade, necessidade de sono diminuída, distração , mudanças de comportamento impulsivo ou imprudente, e rápidas entre os diferentes estados de humor (ou seja, labilidade do humor).

Segundo DSM-5, o transtorno bipolar tipo II caracteriza-se por um curso clínico de episódios de humor recorrentes, consistindo em um ou mais episódios depressivos maiores. O episódio depressivo maior deve ter duração de pelo menos duas semanas, e o hipomaníaco, de, no mínimo, quatro dias, para que sejam satisfeitos os critérios diagnósticos. Durante o(s) episódio(s) de humor, a quantidade necessária de sintomas deve estar presente na maior parte do dia, quase todos os dias, além de os sintomas representarem uma mudança notável do comportamento e do funcionamento habituais.

Nas palavras de Bosaipo,  Borges e Juruena1 (2017),

os quadros de depressão do Transtorno Bipolar, também chamados de Episódio Depressivo Maior, são caracterizados pelo humor deprimido ou perda de interesse/prazer por quase todas as atividades durante pelo menos duas semanas. Além disso, o indivíduo pode apresentar perturbações nas funções vegetativas, incluindo: alterações no apetite ou peso, no padrão de sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimento de culpa e/ou desvalia; dificuldade para pensar ou concentrar-se ou tomar decisões; pensamentos recorrentes sobre a morte, ideação, planos ou mesmo tentativas suicidas.

De um modo geral, o indivíduo com transtorno Bipolar, em especial a mania, no início do quadro, está animado, alegre, acelerado, com ideias grandiosas. Com o passar dos dias e semanas, as pessoas que lhe são mais próximas passam a impor limites aos seus atos, como, por exemplo, negam lhe dar dinheiro, censuram sua atitude e fazem críticas crescentes. Geralmente, então, o paciente pode mudar de um estado global de alegria, elação e excitação para o estado de irritação, beligerância, podendo agredir familiares, profissionais da saúde ou outros que interagem com ele e lhe coloquem qualquer limite ou oposição (Dalgalarrondo, 2019).

As entidades Nosológica dos transtornos relacionados ao Transtorno Bipolar

O DSM-5 classifica o transtorno Bipolar em cinco tipos: transtorno bipolar tipo 1, transtorno bipolar tipo II, transtorno ciclotímico, transtorno bipolar induzido por substância ou medicamento e transtorno bipolar devido a outra condição médica.

Transtorno bipolar tipo I

Este é também chamado de bipolar clássico. Nele predomina a mania ou hipomania em relação à depressão. A idade de início é, em média, aos 18 anos. . O início ocorre ao longo do ciclo de vida, inclusive os primeiros sintomas podem iniciar aos 60 ou 70 anos. O início dos sintomas maníacos (p. ex., desinibição sexual ou social) no fim da vida adulta ou na senescência deve indicar a possibilidade de condições médicas (p. ex., transtorno neurocognitivo frontotemporal) e de ingestão ou abstinência de substância.

Transtorno bipolar tipo II 

Ao contrário do tipo 1, o transtorno bipolar tipo II tem o predomínio da depressão em relação à hipomania. É comum a impulsividade, refletida em tentativas de suicídio e uso de substâncias que alteram a consciência. Embora o transtorno bipolar tipo II possa começar no fim da adolescência e durante a fase adulta, a idade média de início situa-se por volta dos 25 anos, o que é um pouco mais tarde em comparação ao transtorno bipolar tipo I e mais cedo em comparação ao transtorno depressivo maior. Geralmente, começa por depressão, transtornos alimentares, transtorno de ansiedade e uso de substâncias. Não ocorrem sintomas psicóticos, que são causados pela mania.

Transtorno ciclotímico

O transtorno ciclotímico costuma ter início na adolescência ou no início da vida adulta e é, às vezes, considerado reflexo de uma predisposição do temperamento a outros transtornos atrás apresentados. DSM-5 ressalta que há risco de 15 a 50% de um indivíduo com transtorno ciclotímico desenvolver posteriormente transtorno bipolar tipo I ou transtorno bipolar tipo II. No entanto, neste transtorno um paciente altera entre períodos de hipomania e depressivos, mas, não tem sintomas suficientes para caracterizar um diagnóstico., mas não são alterações graves.

Transtorno bipolar induzido por substância ou medicamento 

Acontece após intoxicação ou abstinência de alguma substância ou exposição a algum medicamento que pode produzir os mesmos sintomas. Mas é preciso haver uma lógica entre causa e consequência, por exemplo: quando um paciente utiliza um analgésico e tem um episódio de mania, não há relação entre as duas coisas. Diferentemente de um episódio de mania em quem usou corticoides e anfetaminas, pois os dois eventos podem estar associados.

Transtorno bipolar devido a outra condição médica 

O transtorno bipolar e transtorno relacionado devido a outra condição médica costuma ter início de forma aguda ou subaguda na primeira semana ou no primeiro mês do surgimento da condição médica associada. Entretanto, este compreende a um período persistente de humor deprimido que é consequência de uma outra condição, por exemplo: doença de Cushing, esclerose múltipla, AVC e lesões cerebrais traumáticas.

Referencia bibliográfica

Bosaipo, N. B. Borges, V. F. & Juruena1, M. F. (2017). Transtorno bipolar: uma revisão dos aspectos conceituais e clínicos.  Medicina (Ribeirão Preto, Online.) 2017;50(Supl.1), jan-fev.:72-84. Acessado a 29 de Fevereiro de 2024. Disponível em: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v50isupl1

Dalgalarrondo, P. (2019). Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 3ª ed. Artmed Editora Ltda. Porto Alegre. 

World Health Organization (2018). Classificação Internacional de Doenças: CID-11 (2018) CID-11 Estatísticas para mortandade e mortalidade. Geneva.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento ... et al. (2014). Revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli, et al. – 5. ed. Dados eletrónicos. Porto Alegre: Artmed.

https://www.nhs.uk/mental-health/conditions/bipolar-disorder/overview/ - acessado a 27 de fevereiro de 2024.

domingo, 7 de janeiro de 2024

O fenómeno das massas e alienação social

O interesse pelo estudo dos fenómenos das massas iniciado no século XIX deu acesso ao estudo dos comportamentos vindos dos cidadãos, como um todo social. Nestes estudos, entra em relevo o bem-estar social e, com isso os autores teceram “dizeres” a respeito da construção da cidadania e da democracia.

Realmente em situações de agregação, seja por motivações políticas, quer por motivações religiosas, ou quaisquer interesse da multidão,  “não é exagero afirmar que, de entre aqueles que se encontram no gozo dos seus direitos de cidadania, é muito reduzido o número dos que têm um interesse claro pelo bem estar comum” (Michels, 2001). Na verdade, maior parte dos que vivem debaixo do sol tem sequer consciência das relações de fundo para o bem-estar  geral, senão o bem-estar individual.

Nesta linha, a questão que merece debate é: qual é o interesse daqueles que se têm feito presente nas ruas das cidades, neste período pós eleitoral em Moçambique?

Talvez a questão pareça insensata! Contudo, não se pode perder o pensamento que o ser humano apesar de essencialmente ser um “ser sociável”, este detém autonomia e singularidade. Talvez este último ponto justifique o porquê o ser humano consegue tirar vantagens para si, mesmo nas desgraças, ou por outra, como é que o ser humano é capaz de criar “tumultos” para depois se beneficiar dele.

No colmatar da questão atrás posta convém refletir a posição de cada um, e “eu”, qual é o meu interesse ao me fazer presente ou não naquelas “procissões”? 

Parecendo ou não, estas interrogações são legitimas uma vez que, qualquer decisão posterior poderá influenciar sobre a mente de cada indivíduo. E, para perceber o que estou aqui a dizer, basta se questionar: o que acontece em termos psicológicos ao indivíduo quando ele entra na multidão? Portanto, fazendo parte da colectividade, seu posicionamento, seja ele de indiferença, ou apegado a uma das partes, qualquer consequência irá caracteriza-te!

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Dezembro Vermelho 2023

 

Existe uma tradição criada a nível mundial intitulada por Campanhas de Conscientização na Saúde. Trata-se de conjunto de campanhas voltada para doenças específicas durante cada mês do ano. O principal objectivo nestas campanhas é de levar informações e estimular a população para cuidados de prevenção contra as demais doenças, além de alertar para os principais sinais e sintomas que devem direcionar a busca por profissionais especializados.

Vamos por onde começa a história de tudo isto! Segundo narra Borges, no seu TCC apresentado em 2020, as campanhas começaram sua evolução em 1991, com a campanha de conscientização da AIDS que se celebrou no passado dia 1 de dezembro, dia mundial de combate a AIDS. Nessa campanha, 12 artistas se reuniram em Nova Iorque para criar um símbolo para o movimento, que viria a ser a fita vermelha, inspirada em fitas amarelas que eram atadas a árvores em apoio as famílias de militares norte-americanos que lutavam na Guerra do Golfo. Pouco tempo depois, o símbolo foi sendo adotado para diversas campanhas. 


Além da campanha de conscietização de SIDA, representado pela cor vermelha, Dezembro também é consagrado ao combate do câncer de pele, representado pela cor laranja. O mais preocupante em tudo isso é, de acordo com  as informações publicadas no dia 31 de de dezembro de 2023 pela Integrity, o número de pessoas vivendo com Vírus da Imunodeficiência humana subiu para 2,4 milhões com diagnóstico de 97 mil novas infecções no ano passado no nosso país. Segundo um estudo feito pela OMS (2022) aponta que ocorrem cerca de 2 a 3 milhões de novos casos de Câncer de Pele anualmente no mundo. Os dados são tão alarmantes, que por um lado devem chamar a nossa atenção sobre as diferentes formas de exploração e poluição do meio ambiente que levam à mudanças climáticas, e por outro lado a grande necessidade de serem levados a cabo medidas de prevenção da AIDS!

Outrossim, sabe-se que Dezembro é também último mês do ano civil, e o facto de ter chegado até aqui revela que cada um travou muitas guerras, aprendeu muito dos meses passados, deve ter perdido muitas amizades e ganho outras, enfim (...). Essa é a vida!

Mas a realidade irrefutável no nosso tempo é: estamos propensos a muitos males neste mundo(...)! Por isso está a se morrer muito! Se cuida, se assim for cuidará dos outros também! Feliz o último mês do ano!

Psicopatologia como ciência

Etimologicamente Psicopatologia deriva de duas palavras Psykhé “alma” e Patologia “doença”. literalmente seria doença da alma. A Psicopatologia visa conhecer os fenómenos psíquicos patológicos

O termo Psicopatologia foi usado pela primeira vez no Tratado Médico e Filosófico sobre a alienação mental, publicado por Philip Pinel em 1809. Até o final do século XVIII o sofrimento mental ainda guardava relações com a noção de ‘desmesura’ da Grécia Antiga. No entanto, durante o período anterior ao século XVIII registou-se predominância da prática de isolamento como forma de tratamento dos que apresentavam alienação mental ou paixões violentas.

Com as pesquisas de Philip Pinel em 1809, houve um interesse em se aplicar estudos propriamente clínicos para pensar um tratamento do sofrimento mental que não estivesse subordinado ao relativo fatalismo das noções qualitativas que permeavam o pensamento Grego, assim como apareceu o interesse de romper com a ideologia religiosa que envolvia as manifestações do adoecer psíquico. Nesta época de florescimento de uma psicopatologia no campo da medicina psiquiátrica prevaleceu a tentativa de classificar e etiquetar as organizações psíquicas, dando privilégio à sintomatologia e à descrição do processo evolutivo das doenças.

Os autores Alvarez, Esteban e Sauvagnat  na obra Fundamentos de psicopatologia psicanalítica, mostram que foi no início do século XIX que os médicos ousaram uma maior aproximação dos alienados e iniciaram um rigoroso processo de produção teórica sobre a classificação dos tipos de alienação mental. Estes autores lembram que já em 1798 Pinel havia contribuído enormemente para o nascimento da psicopatologia com seu texto Nosografia Filosófica ou Método de Análise aplicado à Medicina. Neste texto Pinel elaborou primeiramente a distinção de quatro grupos de alienação mental.

O primeiro grupo incluía a mania, melancolia, histerismo e hipocondria. A mania e a melancolia se tornaram alvo de muitos estudos de Pinel culminando na publicação do primeiro Tratado propriamente psiquiátrico. Este psiquiatra já desconfiava das suposições sobre lesões anatómicas como causa das alienações e se dedicou principalmente à dimensão apreensível dos sintomas. Estes sintomas passaram as ser definidos por um critério chamado de ‘lesões do intelecto ou da vontade’, em detrimento dos sintomas especificamente orgânicos. Apontou também para hipóteses sobre a possível hereditariedade das alienações e deu grande importância aos acontecimentos externos e às emoções violentas e exageradas como função de causa do sofrimento mental.



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