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quarta-feira, 3 de maio de 2023

Interpretação da música Cães de Raça do Mano Azagaia

O que o Rap de intervenção social, Mano Azagaia disse-nos na música Cães de raça?

Escutar as músicas do Rap Azagaia, principalmente depois do seu desaparecimento físico no dia 9 de Março, tornou-se uma prática muito comum. Na verdade, o Mano Azagaia (Edson da Luz) teve muita homenagem pública em relação quaisquer outros artistas que faleceram nos últimos anos. Ora, a questão de perceber o conteúdo das suas músicas, não me atrevo a fomentar. Mas ao mesmo tempo eu acho que muitos sabem simplesmente dizer que é mais uma música de intervenção social.

Neste artigo irei me dedicar simplesmente a interpretar a sua música cujo tema é Cães de Raça, lançada no ano 2013. No final vou anexar a letra para melhor compreensão.

Primeiro começarei por aprofundar o tema da música que é: Cães de Raça. E começo por dizer que o tema não pode ser interpretado literalmente. Se o fizermos não teremos um olhar profundo do que o artista quer transmitir na música, uma vez que as ideias: cães de raça não dizem muita coisa, isto no sentido literal. Em contrapartida, fazendo uma analise mais aprofundada, diria que as ideias cães de raça carecem de algum complemento, pois podemos perguntar: que raça?...

Sob ponto de vista da literatura, sim, faz sentido o tema cães de raça. Desta feita, mesmo fazendo a questão: que raça? As respostas surgirão, mas com a percepção do conteúdo posterior da música. E, então, no primeiro verso a raça vai começar por ser identificada: “eu sou mulato né? Sou mulato sem bandeira”. Então a resposta surgiu! Trata-se de cão, não o animal irracional, como refere literalmente a letra, mas num sentido figurativo. Então seria um “cão” ser humano de raça mulata.

Assim sendo, na primeira estrofe, o artista faz um auto-retrato. Nele se identifica como um mulato que não optou por nenhum partido para sua defesa. O seu pai é branco e intelectual, enquanto sua mãe é negra e lavadeira. Quis ser como seus parentes, mas sem se esquecer do lugar do onde nasceu. Optou pela progressão, mas não foi que os “outros” notaram, foi visto como exclusivista.

Ainda na primeira estrofe, o artista mostra que na sua condição de mulato já foi assimilado, processo que levou-o a transformar-se num racista. Mas racista com ideias independentistas, um  revolucionário intelectual de Mafalala. Depois o artista cita alguns intelectuais, são eles Craverinha, Noemia, que são fonte da sua inspiração.

Há características sociais que o artista recorre para descrever atitudes comportamentais em relação à concepção de ser mulato/a na sua época, onde ele diz: “se a mulata arranja job dizem que deu a fruta”. Mas não deixa que isso o afete, pois “não é sua culpa”. Há ainda, nesta estrofe, a necessidade de levar em consideração o paradoxo por ele levantado: “de dia odeiam-me; de noite amam-me”, nisto o artista se opõe, para ele é um regime que deve ir abaixo uma vez que leva ao ódio. Um ódio que nasce devido a condição da pele e, propõe a valorização do amor. O mesmo assunto o artista levanta no seu coro: descreve um ambiente do racismo, onde se tem privilégio a raça de maior exaltação.

Na terceira estrofe, o artista descreve uma outra raça, mas com realidade nova. Já não fala do mulato ou branco. Ele foca-se na raça negra. No entanto, o retrato que faz sobre essa raça é, em primeiro lugar uma raça dominada, que apesar de ser dono do solo vive sempre nas más condições de vida, “preto da senzala a morar numa favela”.

Em segundo lugar, o artista descreve o seu personagem “preto” como aquele não que vive em paz com seus irmãos, mas dá esse privilégio aos seus amigos. É daí que o artista levanta a segunda hipótese como a condição principal que induz ao “preto” a ser explorado no seu próprio quintal, custando-lhe extrema pobreza. No final das contas, como o artista diz: apesar de tanta riqueza existente, é uma riqueza que gera mais pobreza ainda. Como se não bastasse, o “preto” de que ele se refere vive graças às esmolas, caridade, etc.

Em  terceiro lugar, o artista descreve, na terceira estrofe o “preto” como aquele que expulsou o colono, mas mantém o regime, que é o colonialismo. Vê todas as “merdas”, mas no final o “deixa andar” é o que ele promove. E, é exatamente isso, na concepção do artista, o que provoca aquilo que ele mesmo chama de “mau cheiro” dentro do quintal (o solo).

É o regime em que o preto explora outro preto. Muita traição entre eles. De novo, o artista caracteriza o processo de colonialismo como algo presente. Nele se põe em relevo a questão da cor da pele, que dará o acesso à assimilado. Mas aqui, neste regime, cada um luta para chegar até lá, e para tal há muita luta. E, no final da terceira estrofe o artista exalta a África. Para ele é, com base nas suas descrições anteriores, o centro de cura e muito hospitaleira.

Na quarta estrofe o artista volta a mencionar a raça branca, no retrato que ele faz desta vez, volta-se ao branco nascido em moçambique sem seguir a linhagem bantu, o que daria ao tal branco acesso a duas nacionalidades; muito luxo e privilégios acima de outros privilégios; mimos de nascença. Enfim, o branco descrito pelo artista tem muita arrogância em si, resultado dos privilégios e se considera dono da verdade, ele o novo colonista.

Nas suas palavras, os brancos mencionados pelo artista constituem uma luz de esperança do racismo, uma vez que, no caso de qualquer problema de saúde, no caso de acidente como o artista diz, o atendimento não tem sido nos hospitais das massas. Entretanto, trata-se de um branco que sabe bem se aproveitar de tudo: as graças assim como as desgraças. Por isso mesmo, ele diz: “branco bom patrão, na hora das graças; fascista oportunista na hora das desgraças”.

Na última estrofe o artista já se volta a dar uma outra abordagem. Aqui ele se foca muito nos Monhés, uma outra raça, cuja a vida caracteriza-se pelo comércio e religião. Estes oferecem até a esmola nas sextas-feiras. São indivíduos que não estão inseridos no colonialismo, nem há razão para olhar a eles como pessoas com interesse em colonizar. O que fazem é funcionar a economia no país.

Clique aqui para baixar a letra de Mano Azagaia "Cães de Raça"

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