Cidadania, multidões e o interesse Ccoletivo: reflexões no contexto pós-eleitoral Moçambicano
O interesse pelo estudo dos fenômenos das massas, que ganhou força no século XIX, abriu novas possibilidades para compreender os comportamentos coletivos dos cidadãos enquanto parte de um todo social. Tais estudos trouxeram à tona a importância do bem-estar social e estimularam discussões profundas sobre a construção da cidadania e o fortalecimento da democracia.
Dentro dessa perspectiva, diversos autores lançaram olhares críticos sobre as dinâmicas coletivas, muitas vezes pautadas mais pela emoção do que pela razão. Um exemplo emblemático vem de Michels (2001), que observa: “não é exagero afirmar que, de entre aqueles que se encontram no gozo dos seus direitos de cidadania, é muito reduzido o número dos que têm um interesse claro pelo bem-estar comum”. Essa afirmação ecoa uma realidade complexa: muitos cidadãos não têm plena consciência das estruturas que sustentam o bem-estar coletivo, voltando-se, com frequência, apenas para seus próprios interesses individuais.
Diante disso, uma questão instigante se impõe: qual é, de fato, o interesse daqueles que têm ocupado as ruas das cidades moçambicanas no cenário pós-eleitoral?
À primeira vista, essa pergunta pode parecer provocadora, até mesmo desconfortável. No entanto, ela é legítima — e necessária. Afinal, embora o ser humano seja, por natureza, um ser social, ele também carrega em si a marca da autonomia e da singularidade. Essa ambivalência ajuda a compreender como indivíduos são capazes de, em meio a contextos de crise ou de tensão coletiva, buscar vantagens pessoais ou, em casos mais extremos, gerar tumultos intencionais com objetivos próprios.
Nesse sentido, a reflexão sobre a própria posição torna-se inevitável: qual é o meu real interesse ao me fazer (ou não) presente nesses ajuntamentos públicos? Estou motivado por um ideal coletivo ou por razões particulares?
Essas interrogações são mais que válidas. Elas tocam diretamente o campo psicológico e moral de cada indivíduo. Participar de uma multidão não é um ato neutro — envolve uma série de transformações emocionais, cognitivas e comportamentais. Seja na indiferença, na adesão ou no confronto, cada posicionamento diante do coletivo carrega implicações que moldam não apenas a nossa visão de mundo, mas também a maneira como seremos percebidos e lembrados.
Assim, refletir sobre o nosso papel nas dinâmicas sociais não é apenas um exercício de cidadania: é um compromisso com a responsabilidade individual diante do bem comum.

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