Desenho da Figura Humana (DFH)
Desenho da Figura Humana (DFH) — Parte 2: Interpretação, exemplos e limites
Na primeira parte vimos o que é o DFH, para que serve, como se aplica e os cuidados a ter. Agora vamos aprofundar como interpretar os desenhos, o que costuma chamar atenção, exemplos práticos e, sobretudo, os limites desta técnica.
Como se interpreta o DFH?
Interpretar um desenho nunca é tarefa de adivinhar ou tirar conclusões rápidas. O DFH é um recurso que levanta hipóteses e orienta o psicólogo a investigar melhor a pessoa, o seu contexto e a sua forma de se expressar.
A interpretação deve sempre considerar:
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Conjunto do desenho: mais importante do que um detalhe isolado é ver como todos os elementos se relacionam.
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Idade e nível de desenvolvimento: o que é esperado numa criança de 5 anos é diferente de um adolescente ou de um adulto.
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Contexto cultural e social: roupas, símbolos, estilos de cabelo e posturas podem variar muito conforme a realidade de cada pessoa.
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História de vida: o desenho deve ser lido em diálogo com a entrevista, observações e outros instrumentos de avaliação.
O que pode chamar atenção num desenho
Mesmo sem interpretar de forma rígida, alguns aspectos merecem ser observados com cuidado:
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Partes do corpo omitidas: a ausência de mãos, pés ou boca pode levantar questões sobre como a pessoa lida com acções, contacto ou comunicação.
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Exagero em certas partes: olhos muito grandes, braços longos ou cabeças enormes podem sugerir áreas de maior preocupação ou valorização.
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Força do traço: linhas muito carregadas podem transmitir tensão, enquanto traços muito leves podem indicar insegurança.
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Posicionamento na folha: uma figura pequena no canto da página ou muito grande a ocupar tudo pode mostrar modos de se colocar no espaço e no mundo.
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Detalhes de roupas e objectos: acessórios, bolsos, sapatos ou chapéus podem revelar como a pessoa pensa a sua identidade ou deseja ser vista.
Nenhum desses sinais significa algo por si só. Eles apenas ajudam o psicólogo a fazer perguntas mais específicas e a compreender melhor a pessoa.
Exemplos práticos de uso
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Na escola: o DFH pode ajudar professores e psicólogos a perceberem se uma criança está a passar por dificuldades emocionais ou sociais que influenciam o desempenho escolar.
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Na clínica: pode ser uma forma de iniciar a conversa com crianças tímidas ou com dificuldade de falar sobre os seus sentimentos.
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Na comunidade: em projectos sociais, o DFH pode ser usado em grupo para promover expressão, criatividade e diálogo sobre identidade.
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Na avaliação de adultos: embora menos comum, pode abrir espaço para falar de autoimagem, autoestima ou papéis sociais.
Em todos os casos, é essencial que a aplicação e a interpretação sejam feitas por profissionais de psicologia.
O que o DFH não faz
É muito importante sublinhar o que o DFH não pode garantir:
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Não dá diagnósticos por si só.
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Não prevê comportamentos futuros.
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Não deve ser usado para rotular ou julgar alguém.
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Não é prova de inteligência nem de capacidade académica.
Quando mal utilizado, o DFH pode gerar interpretações erradas e até causar sofrimento desnecessário.
Limites da técnica
Como qualquer outro instrumento, o DFH tem limites. Entre os principais:
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Subjetividade: a interpretação depende da experiência do psicólogo.
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Influência cultural: o que parece “estranho” num contexto pode ser normal noutro.
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Variabilidade individual: uma pessoa pode desenhar de forma diferente dependendo do humor, do dia ou do ambiente.
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Necessidade de complemento: sem entrevista e outros testes, o DFH perde muito do seu valor.
Porquê continuar a usar o DFH?
Mesmo com limites, o DFH continua a ser útil porque é simples, acessível e dá espaço para a expressão pessoal. Muitas vezes, uma criança desenha algo que não consegue dizer em palavras. Um adulto pode surpreender-se com o próprio desenho e começar a partilhar memórias ou sentimentos.
O poder do DFH está na porta que abre para a conversa. Ele não traz respostas prontas, mas cria oportunidades de escuta, acolhimento e compreensão.
O papel do psicólogo
O psicólogo deve assumir o DFH como um recurso de aproximação e não como uma “máquina de diagnósticos”. É a sua responsabilidade:
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Garantir que a aplicação seja ética e respeitosa.
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Explicar à pessoa o objectivo da actividade.
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Manter confidencialidade dos desenhos.
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Integrar as informações do DFH com outros dados.
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Devolver resultados de forma clara e construtiva.
Conclusão
O Desenho da Figura Humana é mais do que um desenho. É uma forma de expressão que permite abrir espaço para compreender emoções, pensamentos e percepções. Quando bem utilizado, ajuda a revelar histórias e necessidades que nem sempre aparecem nas palavras.
Na primeira parte vimos como funciona a aplicação. Agora, nesta segunda parte, aprofundámos a interpretação, exemplos práticos e limites. O essencial é perceber que o DFH é uma ferramenta de apoio, nunca uma resposta final.
A sua maior força está em criar pontes entre psicólogo e pessoa avaliada, ajudando a transformar linhas num papel em oportunidades de cuidado e compreensão.

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